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PLURAL: os textos de Suelen Aires Gonçalves e Silvana Maldaner

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A desumanidade em meio a pandemia

Suelen Aires Gonçalves
Socióloga e professora universitária

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A pandemia de Covid-19 é identificada em Wuhan, na República Popular da China, em 1 de dezembro de 2019, mas o primeiro caso é reportado em 31 de dezembro de 2019. Tal pandemia toma proporções internacionais nos meses subsequentes e chega anosso país, com potência, no início do mês de março com os primeiros casos divulgados em território brasileiro. Já contamos com mais de 1.674.655 infectados e infectadas e com 66.868 mortes até a hora da escrita desse artigo.

Uma das medidas adotadas para a não contaminação é o "isolamento social" e a higienização das mãos com agua e sabão ou álcool em gel, como meio de prevenção da doença, conforme orientação da Organização Mundial de Saude (OMS). No entanto, mais uma vez, a população negra e pobre do nosso país está sem a devida proteção. Nosso pais e sua desigualdade estrutural mostram a sua face perversa neste momento histórico. Pois, mais uma vez, nossos corpos negros residem nas favelas, nas periferias e nos quilombos, com pouco acesso a itens básicos como água e saneamento básico. A realidade das periferias em nosso pais dificulta o acesso mínimo aos cuidados para o enfrentamento a pandemia provocada pela Covid-19, com itens básicos como higienização das mãos e possibilidade de isolamento social. Mas como pensar alternativas se a população em questão é a que não tem acesso a moradia digna, a trabalho digno, dentre outras?

A pobreza tem cor no Brasil, ela é negra! Inúmeras pesquisas de órgãos governamentais e não governamentais apresentam estatísticas que corroboram com a afirmação acima. A população negra compõe majoritariamente o setor dos serviços, como o trabalho doméstico, o de portaria, os motoristas. Ou seja, compõe o quadro dos trabalhos precarizados dentro do contexto capitalista periférico brasileiro. Com essa reflexão, podemos calcular que não é a população negra e periférica que pode usufruir do "isolamento social" pois ela é quem mantem o trabalho mesmo em um contexto de pandemia. Nosso Estado está preocupado com a vida do seu povo? A classe empresarial/comerciante está disposta a suspender suas atividades e manter vínculos empregatícios com suas equipes? Infelizmente, o capital está a cima da vida humana. Mesmo em um contexto onde o foco central é a não proliferação do vírus como forma de prevenção à doença, ela ainda é restrita a alguns segmentos da sociedade.

Governo que produz necropolítica

E, neste contexto de crise, temos um governo que produz a necropolítica. Estamos diante de um governo que não tem compromisso com a vida humana, vide as últimas aparições do atual "Ocupante do Palácio do Planalto". Pessoa essa que, desde o início da pandemia no Brasil, teve uma postura negacionista, referindo-se à doença como uma "gripezinha". Depois, com a explosão de casos no Amazonas, ele diz "e daí" e "eu não sou coveiro". Esteve em manifestações criminosas e antidemocráticas sem máscara e desrespeitando as orientações da OMS e de distanciamento social. Eis que retorna à cena, pois estava "desaparecido" desde a prisão de seu amigo Queiroz, acusado de crimes ligados à milícia e ao esquema de "rachadinhas" de desvio de dinheiro público.

 Logo após anunciar o teste positivo para a Covid-19, o "Ocupante do Palácio" voltou a apresentar seu projeto de desumanização. Em entrevista, afirmou o uso de medicamentos, mesmo sem evidências cientificas da sua eficácia. Ou seja, torna-se o garoto propaganda da sua própria narrativa anti-ciência e desumana sem respeito às orientações de prevenção de uma doença que não tem cura, não tem vacina e matou, até o momento, quase 67 mil pessoas. Contamos com inúmeras famílias em luto, sem chance de um adeus conforme nossos ritos de passagem, inúmeras regiões com casos em ascensão, como no Rio Grande do Sul, e necessitamos lidar com a crise da Covid-19 e contra a crise de humanidade que está representada na atual gestão do Estado brasileiro.

Plantio e colheita
Silvana Maldaner
Editora de revista


style="width: 25%; float: right;" data-filename="retriever">Oque conseguimos aprender neste primeiro semestre de 2020 é que não podemos prever o futuro. O que será do amanhã, ninguém sabe. Quando teremos nosso último encontro, nosso último jantar, o último abraço, a última festa. O que podemos fazer é viver o presente, como um grande presente. O momento é agora. Ser feliz, ser grato, reconhecer, acreditar, fortalecer a fé, conectar-se com o bem maior e acreditar que tudo passa.

Todos sabem que produzimos hormônios que agem quimicamente em nosso organismo proporcionando felicidade, como endorfina, dopamina, serotonina e ocitocina. Estes hormônios transportados pelo sangue fazem comunicação com outras células e melhoram o sistema nervoso central. São eles que elevam a autoestima, reduzem ansiedade e depressão. São produzidos e estimulados através de atividades físicas, abraços, sentimentos afetuosos, gratidão, celebração, oração e compartilhamentos de vitórias.

Neste momento de distanciamento social, muitas pessoas adoeceram pela tristeza. Adoeceram sua alma carente de abraços e beijos. Adoeceram na falta de fé. Mas o que fazer com tantas incertezas, tantos bombardeios de coisas ruins e notícias sensacionalistas? Como reagir e manter a paz nesta pandemia de angustias coletivas que barram o pensamento criativo, a liberação da alegria, da motivação?

Acredito que o primeiro passo para superarmos esta depressão deva ser disciplinar a mente e procurar se afastar das pessoas que consomem a nossa energia. A energia chega muito antes das palavras. Pessoas que cultivam hábitos de só reclamar, invejar, fofocar, diminuir os outros, criam uma atmosfera mental negativa, atraindo cada vez mais, fatos e situações negativas. Não conseguimos mudar as pessoas. O que podemos fazer é mudar a nós mesmos. Encarar sob novo aspecto a realidade apresentada.

A liberdade de plantio é opcional, mas a colheita é obrigatória. Quando a pessoa planta vento, vai colher ventania. Isto pode ser aplicado em relacionamentos, saúde, prosperidade e tudo mais. A vida é dinâmica. Sistêmica. Ninguém colhe o que não plantou. Cada um vai viver o que atraiu para si. Você já pensou se suas palavras fossem alimento. Você estaria nutrido ou intoxicado?

Quanto veneno é ingerido em forma de raiva, ódio, inveja. Quanto veneno é compartilhado em forma de mentira, calúnia. Com certeza, esta energia negativa fica muito mais nas bocas que emanam, nos pensamentos que destroem, do que no alvo almejado.

A essência é a paz

O Brasil é o país do futuro. Aqui temos mais de 200 milhões de pessoas alegres, afetivas, espiritualizadas e que precisam despertar da sua força interior, da sua capacidade infinita de superar as dificuldades e desafios. Nunca fomos destroçados por uma guerra, terremoto, tsunami ou ciclones. Aqui a essência é a paz, um povo que trabalha, que produz, que faz brincadeira, que abraça e que acredita.

Então, sugiro fazermos uma corrente do bem. Compartilhar somente a vida, somente a cura, somente as boas novas. A felicidade brota no cotidiano de mentes gratas, que conseguem ver a beleza da chuva, a paz do anoitecer e a serenidade das estrelas que brilham todas as noites, mesmo quando encobertas pelas nuvens.

Conclamo o despertar da alegria, o sorriso gratuito. A gentileza do amor livre. Vamos plantar a semente da esperança todos os dias. Aqui e agora.

Nestas circunstâncias e com estas pessoas em nossa volta. Vamos juntos construir uma nova página, com gente que tem coragem de ser feliz.

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